Desde há quatro anos que sou verdadeiramente rica. Ganhei dois presentes de valor incalculável: os meus filhos! E descobri um amor incondicional, imenso, que capitaliza todos os dias, que fortalece e, ao mesmo tempo, fragiliza.
O Francisco e a Carolina, mesmo ainda pequeninos, revolucionaram a minha vida, por completo e para sempre. Deram-lhe um sentido único, nunca dantes sequer imaginado. Ensinaram-me a ser mãe, a crescer enquanto pessoa, a relativizar questões menores e a ser feliz, mesmo em momentos difíceis. Revelaram-se os maiores tesouros.
A maternidade transportou-me para um estado de deslumbre e de aprendizagem constantes. A minha maior recompensa passou a ser o sorriso das duas crianças maravilhosas que Deus me concedeu. Aprendi, a cada traquinice, a agradecer a bênção de ter filhos saudáveis. A ver nas paredes de casa pintadas a lápis e marcadores uma nova forma de arte. A considerar os legos, os carrinhos e as bonecas elementos importantes de decoração. Até a entrada beneficiou dos tons coloridos e alegres das Kitties, Dusty's e Faíscas Macqueen's.
Mas ser mãe é mesmo assim: - descontrair perante a desarrumação, - vibrar com cada sorriso e cada passo, - chorar mais que os nossos filhos nos primeiros dias de colégio, - ter de acordar cheia de energia e boa disposição depois de muitas noites mal dormidas, - exagerar nos cuidados, nas recomendações e nas exigências, - repreender e passar o dia triste com isso, - estar em alerta constante pressentindo perigos possíveis e imaginários; - ficar apreensiva perante novos acontecimentos e desafios dos filhos, - resmungar pela falta de tempo para si e não conseguir estar muito tempo longe dos filhos, - ignorar o mundo por causa de um arranhão ou de uma dor de barriga dos nossos filhos, - viver com o coração cheio de amor, preocupação e dor, - compreender os conselhos e as aflições das nossas mães, - imaginar e contribuir para um mundo melhor para os nossos filhos.
Ser mãe é tudo isto e muito mais. É também ser bastante exagerada!
Olá, eu sou a Maria da Glória Pinto Almeida. O P. Gonçalo pediu-me que contasse uma experiência recente.
Porto, 13 de Março de 2015
Este ano tem sido especialmente difícil. O Pedro, no 1º ano da faculdade, anda todo enervado, o João, no 12º, muito ansioso, o Manel tem chegado a casa muito rabugento; diz que são só problemas na empresa, mas eu tenho medo que esteja doente. Enfim. E lá no escritório, com uma de férias e outra de licença de parto… Tem, de facto, sido muito complicado.
No meio disto tudo, um dia entrei numa igreja a pensar: “ao menos descanso um bocadinho já que não consigo rezar”. (Ultimamente não consigo rezar, a minha cabeça anda cheia de mais, sempre a cem à hora. Não tenho paz de espírito). À entrada estavam umas folhas com as leituras do dia. O evangelho dizia mais ou menos que as preocupações nos afastam de Deus. “Deves 'tar no gozo”. disse a Deus. “Só pode”. (Foi mesm’assim). “Então eu ando aqui que não posso com uma gata pelo rabo e Tu vens-me dizer que as minhas preocupações me afastam de Ti? Estás no gozo…”. Mas deixei-me estar. Estava-se bem na igreja e deixei-me estar ali sozinha. (Sozinha mais Deus). Quando saí, vi que era mais cedo do que supunha e fui até à Foz tomar um café.
O mar estava lindo, cinzento, cheio de espuma. E, mais calma, pensei que de facto, desde que ando mais acelerada, deixei de ligar o passo-a-rezar [um site com uma proposta diária de oração para ouvir e rezar]. Também tentei o Click To Pray [plataforma digital para oração diária], mas também não deu. O papelinho tinha razão, as preocupações afastam-nos de Deus. Por outro lado, não podia ser. Eu não estava a fazer nada de mal, não tinha culpa; estava preocupada com coisas boas. Eu não tenho capacidade para ser como o Jesus que se vê nos filmes, que parece sempre estar a andar em cima de um colchão de nuvens, muito sereno, com uma voz um bocadinho monocórdica. Não, não tenho capacidade para isso. E fiquei com alguma angústia dentro de mim que não sabia resolver.
Por essa altura, a minha médica deu-me dois dias de baixa, porque achou que eu estava mesmo a rebentar, e conseguimos ir, com os miúdos, três dias para Amarante. A Confeitaria da Ponte tem uma boa esplanada sobre aquele magnífico rio e no sábado de tarde, enquanto eles ficaram no hotel a jogar bilhar, fui até lá. Não estava ninguém. (Talvez por estar muito frio). E assim fiquei a olhar o rio a passar. Dormitei, até, um bocadinho – estava super agasalhada – e depois fiquei num estado de semi-letargia e com muita coisa na cabeça. Pensei: “É desta que eu vou rezar”. Mas ainda não foi daquela vez. Pelo menos, da maneira que eu tinha pensado.
De repente, não havia mais carros na ponte ao lado da confeitaria e fez-se um grande silêncio. Eu fiquei nesse silêncio, com a cabeça ora cheia ora vazia, e progressivamente fui sentindo uma grande calma interior lá no meio de todas as minhas preocupações. Era como um parque no meio de uma cidade. Fui sentindo uma coisa que achava que era Deus mas nunca tinha sentido aquilo antes. Como sabia bem, deixei-me estar. Era uma espécie de ebulição interior, muito leve, e também uma alegria muito fraquinha. Não era pouca alegria, era muita alegria, mas eu quase não a sentia por ser muito fraquinha. Era uma coisa lá no fundo de mim mesma, parecia que estava no fundo do estômago. E ao mesmo tempo o Manel e os miúdos vinham-me à ideia e estavam dentro dessa alegria. Deixei-me ficar assim durante bastante tempo. Depois eles apareceram. Vinham comer papos d’anjo com um chazinho.
Mais tarde, pensei se aquilo teria sido rezar ou não. Contei a um padre amigo, que me disse que lhe parecia que sim. “Mas eu não falei com Deus”, disse-lhe. “Não foi preciso”, respondeu-me. “Esteve com Deus como quem está de mãos dadas com alguém, sem falar”. E eu pensei que quando estivesse muito cansada, quando não me viessem palavras à cabeça, talvez pudesse estar assim com Deus.
Nota: este artigo é uma peça de ficção escrita pelo P. Gonçalo Miller Guerra.
“Misericórdia”, “perdão”, “silêncio”, “peregrinação”, “obras de misericórdia”, “reconciliação”. Estas são algumas das palavras-chave da Bula Misericordiae Vultus, do Papa Francisco, que proclama o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, a celebrar entre 8 de Dezembro deste ano e 20 de Novembro de 2016.
É um documento prático, com algumas indicações sobre como celebrar e viver, em todo o mundo, este Ano que se aproxima. Mas é também um documento formativo, que convida a uma reflexão sobre a misericórdia, o perdão, a celebração do sacramento da Reconciliação, ou a importância da escuta da Palavra de Deus como forma de contemplar e assumir a misericórdia. E convida a contrariar o clima de indiferença, abrindo os olhos às situações do mundo que nos rodeia, perante as quais somos convidados a agir com misericórdia.
O Santo Padre afirma que “é triste ver como a experiência do perdão na nossa cultura vai rareando cada vez mais” (n. 10). Esta é uma tristeza que também nos inquieta?
Segundo o Papa Francisco, onde a Igreja está presente a misericórdia de Deus deve ser evidente. “Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia” (n. 12).
A Bula agora apresentada no Vaticano lança um convite muito directo à reflexão, e redescoberta, sobre as obras de misericórdia, corporais e espirituais. Quantas vezes, durante este Ano, vamos dar de comer aos que têm fome e de beber aos que têm sede, vestir os nus, acolher os peregrinos, visitar os doentes e os presos e enterrar os mortos? E quantas vezes vamos aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, suportar com paciência as fraquezas do próximo e rezar a Deus por vivos e defuntos?
Francisco dirige um apelo específico à conversão, aos que “estão longe da graça de Deus pela sua conduta de vida” (n. 19), concretamente os que pertencem a um grupo criminoso e os defensores e cúmplices da corrupção: “Este é o momento favorável para mudar de vida” (n. 19).
No documento, o Santo Padre afirma que “a misericórdia possui uma valência que ultrapassa as fronteiras da Igreja. Ela relaciona-nos com o judaísmo e o islamismo, que a consideram um dos atributos mais marcantes de Deus […]. Possa este Ano Jubilar, vivido na misericórdia, favorecer o encontro com estas religiões e com as outras nobres tradições religiosas; que ele nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas a formas de violência e discriminação” (n. 23).
Que estes apelos do Papa Francisco ecoem na vida de cada um de nós, especialmente durante o Jubileu que se aproxima e deve ter continuidade na nossa vida, mesmo depois do seu término. Que o Amor de Deus nos inspire a dar passos de misericórdia concretos, na família, no local de estudo ou trabalho, na comunidade paroquial que integramos, na relação com os nossos amigos e conhecidos.
Tenhamos a coragem de perdoar “setenta vezes sete...” vezes (cf. Mateus 18, 22). Tentemos, pelo menos!
1. A Semana Santa ficou marcada por mais um massacre de cristãos. Desta vez foi no Quénia: islamitas ligados ao grupo Al-Shabaab, da Somália, assaltaram uma universidade e executaram mais de 140 estudantes, tendo seleccionado essencialmente estudantes cristãos. É mais um episódio, entre muitos, da ofensiva islamita contra os cristãos, mais evidente no Médio Oriente e em algumas regiões de África.
2. Não vale a pena enterrar a cabeça na areia: o domínio ou o extermínio do Cristianismo – e de qualquer fé que não seja a sua – é o objectivo do islão desde as suas origens. Felizmente, durante séculos, a existência de países cristãos tornou este objectivo bastante difícil. A situação, porém, mudou radicalmente, sobretudo na segunda metade do século XX. O Ocidente deixou paulatinamente de ser cristão – tornou-se laico e encaminha-se rapidamente para ser coisa nenhuma.
3. O islão, pelo contrário, mesmo no Ocidente, mostra-se cada vez mais pujante, convencido de si, da sua superioridade e do seu triunfo. Os islamitas violentos são a manifestação explícita desta pujança e a impunidade com que se dedicam ao genocídio das minorias cristãs no Médio Oriente apenas os confirma nas suas certezas: o Ocidente está pronto para a conquista... E, na sua política e culturalmente muito “correcta” indiferença perante o genocídio dos cristãos do Médio Oriente, vai cavando a própria sepultura.
4. Há dias, Mosab Hassan Yousef, filho de um dos fundadores do Hamas (grupo terrorista que domina a Faixa de Gaza), convertido ao Cristianismo e a viver nos Estados Unidos, interrogado sobre se o Ocidente está em guerra com o islão, respondia: “Não. Mas o islão está em guerra com o Ocidente e estará até atingir os seus objectivos”. Pode não ser agradável, mas talvez seja útil dar ouvidos a quem sabe, por experiência, do que fala.
Apenas o silêncio poderá dar espaço à escuta de coisas importantes. O ruído dispersa, os afazeres diários distraem. Mesmo a enorme vontade de viver com atenção a Quaresma e a Páscoa vai sentindo as dificuldades próprias de um dia-a-dia agitado entre actividades e preocupações. Mas é necessário o silêncio, especialmente nestes dias que se aproximam. Estamos a chegar ao Tríduo Pascal, onde, em três dias, se concentra uma série de acontecimentos que despertam atitudes de desconcerto, espera e profunda alegria.
O Sábado Santo é um tempo longo para se dar conta do inexplicável, o silêncio próprio da experiência da morte, diante da qual ficamos sem palavras, numa aceitação difícil da condição frágil de todos nós. Mas não é um silêncio desesperado, é pacífico, alimentado por uma secreta esperança. Que não se sabe o que é, apenas convida a deixarmo-nos guiar, aceitar e acolher.
E chega aos nossos ouvidos o anúncio mais extraordinário de todos os tempos: Aquele que foi crucificado, está vivo, ressuscitou! É o motivo principal – na verdade, o único motivo – da nossa alegria cristã.
Vivamos esta Páscoa no silêncio atento do coração, mergulhados na esperança, e deixemo-nos ressuscitar com Cristo. Por muito que a vida nos diga o contrário, a Ressurreição e a Vida são as palavras finais de Deus. Não nos podemos esquecer disso.
Nesta alegria, o Secretariado Nacional do Apostolado da Oração deseja uma Santa Páscoa a si e a toda a sua família.