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Blogue do Apostolado da Oração

UM CASAMENTO COM CHAMA

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Tempo de Verão, época de casamentos. Resolvi escrever dois ou três artigos sobre diferentes fases do casamento. O título genérico dos artigos é “Existimos, Logo… Somos Casal?”, o que quer dizer que não basta estar casado para se ser um verdadeiro casal. Também podíamos transformar este título em “Existimos, Logo… Seremos Um Casal Com Chama?” E o que é um casal com chama? É um casal que aspira a ser cada vez mais feliz, que inspira oxigénio para alimentar o fogo do seu amor. É um casal que faz um esforço por se amar e por amar a Deus. 

Vou abordar este tema em três fases da vida do casal:
– o casal com filhos a crescer;
– o casal com filhos a sair de casa;
– o casal já sem filhos em casa;
Note-se bem que a divisão é puramente metodológica. Muitas das coisas que direi em certa fase da vida do casal também se aplicam às outras.

1 – O CASAL COM FILHOS A CRESCER

Os casais com filhos a crescer têm normalmente esta circunstância: empregos exigentes e cansativos, filhos muito absorventes, os seus amigos e as suas distracções. No meio disto tudo, qual é a prioridade? O emprego, o casal, os filhos, os amigos? Será o emprego para o Pai e os filhos para a Mãe? Serão os filhos a prioridade para os dois ao mesmo tempo? Às vezes, quando os filhos nascem parece haver uma mudança do centro do casamento: o mais importante deixa de ser o casal para serem os filhos. E, de facto, assim é. Mas o leitor repare que só em certo sentido: só em termos de tempo.

O casal passa de uma situação em que se dedicava completamente um ao outro para ter que dividir a sua atenção, o seu tempo, o seu afecto e o seu dinheiro com um terceiro elemento chamado “filhos”. Mas divisão não é sinónimo de entrega total. Divisão é mesmo só isso: divisão, dividir, partilhar, embora muitas vezes essa divisão não possa ser equitativa, porque o tempo que o casal gasta em família é muito mais do que o tempo que o casal tem para si. O casal tem então que reestruturar a sua vida, porque o núcleo da família continua a ser o casal. (Note que foram os membros do casal que se casaram. O casal não se casou com os filhos; o marido e a mulher não podem desaparecer para só existirem os pais.)

E como é que o casal vai reestruturar a sua vida de maneira a continuar a ter tempo para se amar? Arranjando tempo de qualidade para si. Não me refiro a irem ao supermercado juntos, ou ao cinema ou ao centro comercial, ou ao café. Refiro-me a tempo de qua-li-da-de. A tempo em que estão só os dois, SÓ para os dois. Este tempo é fundamental para o casal porque, se com o aparecimento dos filhos o casal não se pode começar a amar menos, a verdade é que tem muito menos tempo para si. E então há que compensar o tempo que não tem com alturas de um amor mais intenso.

Dividi estes períodos de amor mais intenso em três grupos, consoante a sua duração: micro-tempos, tempos médios e macro-tempos.

- Os micro-tempos
os micro-tempos são acções que, embora durem um curto espaço de tempo, vão ter muita importância. São flashes de uma máquina fotográfica que vão iluminar a relação para que, retrospectivamente, o membro do casal possa sentir: «sou amada por ele», «sou amado por ela». Por exemplo, um ramo de flores, um bilhete debaixo do travesseiro, um sms, um sussurro, uma festa, um abraço…


- Os tempos médios
Eu proporia que este tempo médio fosse um tempo, mensal, no mínimo de uma hora (há quem já tenha feito um dia inteiro), em que o casal está SÓ um para o outro, sem filhos, sem amigos, sem cão nem gato, a fazer alguma coisa que goste. Jantar fora, passear, compras, cinema, pôr a loiça na máquina, seja o que for que una os dois. São tempos que, se não forem marcados na agenda, não se chegam a dar porque a tendência vai ser sempre deixar estes tempos para depois de todas as outras actividades a que o casal não se pode furtar.


- Os macro tempos
Os macro tempos são os tempos médios distendidos: um fim de semana, uns dias, seja o que for. O objectivo é o mesmo. Mas tal como os tempo médios, têm que ser marcados.

Um casamento é como uma fogueira, temos que pôr achas. Às vezes, os casais dizem: divorciaram-se porque o amor acabou. É porque não foram pondo achas. As achas têm que se ir pondo enquanto ainda há outras a arder, senão depois é muito mais difícil voltar a ter fogo. Os filhos são uma distracção que nos pode afastar da fogueira. Ou, às vezes, um emprego muito exigente.

É fundamental a abertura ao outro. É difícil haver amor quando o outro se fecha muito sobre si. Mudar a personalidade é muito difícil mas, por amor, podem ser dados grandes passos.

Uma última observação. O homem e a mulher são diferentes. Isto é uma evidência que depois, no dia-a-dia do casamento, nem sempre é evidente. Um assunto que pode dar que falar eventualmente num próximo artigo.


Espero que este artigo vos ajude a analisar o vosso casamento. E a tornar a vossa relação mais feliz.

 

Gonçalo Miller Guerra, s.j.

OS PAIS SÃO INSUBSTITUÍVEIS

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As teorias sobre como educar uma criança multiplicam-se. Há manuais para quase tudo, desde o nascimento até, pelo menos, à adolescência. Mas, mesmo assim, para muitos pais, se não a maioria, educar um filho representa o maior desafio das suas vidas, porque cada criança é única e requer um cuidado e um acompanhamento próprios, muitas vezes bem diferentes daqueles que constam nos livros. 


As mães, em particular, costumam ouvir todo o tipo de conselhos, quase sempre vindos das gerações mais velhas e supostamente mais sábias. Mas nas horas difíceis, perante comportamentos, dificuldades, medos e ansiedades, as melhores orientações são ditadas pelo instinto maternal. Só as mães têm o dom de conhecer verdadeiramente os filhos, de os amar incondicionalmente, de os pressentir mesmo nas ausências e, por isso, são sabedoras da melhor forma de os educar. Obviamente, com o apoio do pai, uma figura insubstituível e de referência na vivência e no crescimento de qualquer criança.

Johann Goethe dizia que «a melhor forma de ensinar uma criança a amar é amando-a». Sem dúvida. E a melhor forma de educar uma criança é também amando-a, dedicando-lhe tempo, carinho e compreensão. Sem perder a razão. O amor não pode impedir de ver os erros e os defeitos e de os corrigir devida e atempadamente. Mas é de amor e da presença afectiva e efectiva dos pais que os filhos precisam para crescerem harmoniosamente.

Numa das suas catequeses dedicadas à família, o Papa Francisco sustentava que os pais devem «implicar-se plenamente na educação dos filhos» e que «é difícil para os pais educarem os filhos quando só os vêem ao fim do dia e voltam a casa cansados».

Esta é precisamente uma das maiores questões que se coloca às famílias nos dias de hoje. Falta de tempo de qualidade em família, com prejuízos maiores para as crianças, que tantas vezes se tornam irrequietas, tristes, revoltadas, simplesmente como forma de reivindicarem mais atenção das pessoas de quem mais gostam e que são a sua âncora. Para educar é preciso também estar disponível, presente.

A este propósito, o Papa lamenta que «agora ninguém tenha tempo para falar, reflectir e debater», pois «muitos pais estão sequestrados pelo trabalho e outras preocupações, sobrecarregados pelas novas exigências dos filhos e da complexidade da vida actual, ficando paralisados quando é preciso agir».

Francisco critica ainda os «chamados peritos que sabem tudo» e que acham que os pais devem apenas «ouvir, aprender e adaptar-se», «privando-os do seu papel» e «tornando-os excessivamente apreensivos e possessivos com os filhos, até chegarem ao ponto de nunca os corrigirem».

Os pais são insubstituíveis. As creches e as escolas, por exemplo, têm um papel importante, mas bem distinto - ensinar. E devem restringir-se a esta função, de modo a não se tornarem espaços desvirtuados e de conflito, como em tantos casos já acontece.

O Papa considera que «se a educação familiar recuperar o protagonismo, muitas coisas vão melhorar» e que os pais devem «regressar do exílio» para se implicarem plenamente na educação dos filhos, sem os «exasperar, nem os desanimar».

Na verdade, o que as crianças precisam é de ser educadas com amor. Em primeiro lugar e sempre dos pais, pois só eles podem amar e educar como ninguém.

 

Elisabete Carvalho 

 

 

HAJA FESTA!

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Cidades e vilas estão em festa. Ornamentaram as principais ruas, para dar um colorido diferente a quem vai passando. Convidaram artistas musicais e planearam acções de animação dirigidas a públicos de diferentes faixas etárias. Algumas conseguiram assegurar uma transmissão televisiva, atraindo ainda mais pessoas ao movimento já previsto.


Os vendedores ambulantes procuram cativar os clientes com artigos diversificados. Carrosséis, carrinhos de choque e montanhas russas desafiam miúdos e graúdos para momentos de animação que prometem quebrar as rotinas.

No ar misturam-se os aromas do pão com chouriço, das bifanas, da sardinha assada e do caldo verde com o das farturas, dos churros, das pipocas e do algodão doce. E o cheiro dos manjericos vai “fazendo concorrência” ao do alho-porro.

Há foguetes e fogo de artifício. Marchas populares e folclore local. A folia sai à rua e os forasteiros juntam-se aos habitantes das cidades e vilas para quebrar a rotina do dia-a-dia e usufruir de uns momentos de diversão e convívio.

Para que tudo decorra sem incidentes de maior, reforça-se o policiamento e a segurança. A limpeza das zonas mais movimentadas é alvo de cuidados redobrados, para que no dia seguinte o espaço esteja pronto para receber novos foliões.

É este o ambiente que paira no ar durante o mês de Junho, mês, por tradição, dos santos populares. Participar nestes festejos é uma forma de descontrair e de “fugir” dos ritmos demasiado acelerados que a sociedade vai impondo durante o resto do ano.


É bom que haja festa. Ela faz falta. Mas também é bom que a mesma seja vivida com moderação de comportamentos. Nós, cristãos, podemos dar o exemplo.

No meio de tanta animação, importa não esquecer aqueles a quem as festas são dedicadas: Santo António, São João Baptista e São Pedro. Afinal, são eles a razão de ser de toda esta movimentação.

Por isso, aproveitemos também estes dias de folia para parar um pouco e nos dirigirmos aos templos em sua honra; para lhes dedicarmos alguns momentos de oração. Estejamos atentos a todo o programa das festas e não percamos a oportunidade de participar nas iniciativas de âmbito religioso.
Podemos também aproveitar este mês para saber um pouco mais sobre a vida de cada um dos santos populares e os ensinamentos que nos deixaram. Embora anualmente nos envolvamos, mais ou menos, nestas festividades, será que sabemos algo da vida de Santo António, São João Baptista e São Pedro?


Haja festa, sim! Mas uma festa que evoque com dignidade aqueles que celebramos.

 

Cláudia Costa 

CANSAR-SE BEM

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Antes de tratar o tema, faço um apontamento que parece não ter a ver, mas que ajuda a clarificar. Na oração há dois tipos de distracções, que acontecem bastante e com as quais teremos de aprender a conviver. Há distracções sobre coisas pequenas e quotidianas, uma tarefa a fazer, um compromisso a realizar, uma coisa que está fora de sítio ou um barulho que não cessa. Para essas a solução é simples: com paciência e docilidade, afasto a distracção do pensamento, porque estou a fazer algo mais importante nesse momento. De novo na presença de Deus e continuo.

 

Há outras mais “teimosas”, persistentes, uma pessoa, algo que me foi dito, uma decisão que não tenho coragem ou vontade de tomar. Mas, tendo diante de mim um texto ou uma meditação, é nisto que devo estar, pois não tem a ver com o que se está a pensar. Ou talvez tenha muito a ver, porque não é o que se está a pensar que interessa, mas o que se está a sentir. E sentimos sobre coisas significativas – logo, se elas insistem, devemos dar-lhes atenção. Colocar a questão com verdade e falar disso com Deus, que é do que trata a oração, falar a Deus da minha vida. 

 

O mês de Junho é uma espécie de últimos quilómetros da maratona. Já se fez quase tudo, mas falta aquele pedaço até à meta das férias, quando cada passo já está mais carregado com desânimo e falta de vontade do que propriamente com o peso do corpo. Estar cansado é normal, faz parte da vida, como a distracção faz parte da oração. Mas, tal como as distracções, há bons e maus cansaços. Cansaços que vêm das coisas pequenas e cansaços que vêm das coisas grandes. Aos primeiros, é preciso responder com realismo, distância e um saudável humor, pois raramente essas contrariedades significam o fim do mundo. Os segundos cansaços, se percebemos que são causados pelas coisas certas, acabam por não ser um peso. Um trabalho que se abraça como missão, o ser pai ou ser mãe, marido e mulher, dedicação generosa ao outro. Cansa, é verdade, mas é um cansaço bom.


Nesta recta final do ano, cansemo-nos bem, mas com aquilo que importa; não deixemos que coisas pequenas ocupem mais espaço que as grandes. O que enche o coração não cansa, e, se ele fica cansado, é porque está cheio de coisas que deveriam não estar lá, as distracções, por exemplo.


António Valério, sj