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Blogue do Apostolado da Oração

DESCANSAR TAMBÉM É UMA MISSÃO

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Ao chegar o mês de Agosto, para muitas pessoas, tempo de férias, sente-se a necessidade de retemperar forças depois de um ano de trabalho ou estudo. Apetece não fazer nada, viajar, estar com a família e os amigos com tempo, de um modo que não se conseguiu ao longo do ano.


Mas há um aspecto que nos devia fazer pensar. Se férias quer dizer tempo para se fazer aquilo de que se gosta, estar descontraidamente com quem nos é mais próximo, isso não quererá significar que passámos 11 meses do ano sem o fazer? Isso não é bom. E o trabalho não deve ser desculpa para não cuidarmos coisas fundamentais.


A nossa saúde, as nossas relações familiares e de amizade, a nossa oração não devem acontecer só porque não existe o trabalho a roubar-nos disponibilidade. Descansar, neste sentido, é algo a fazer sempre, todos os dias… é uma missão!


Que estas férias nos ajudem a cuidar melhor o essencial, mas lembremo-nos que não podemos ficar só por aí.


O Secretariado Nacional do Apostolado da Oração deseja a todas as pessoas que acompanham a nossa actividade, através do nosso site, das nossas revistas e dos nossos projectos digitais umas boas férias, cheias das maiores bênçãos!


Com estima
P. António Valério, sj

 

PRINCÍPIOS E INTERESSES

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1. Há tempos, alguém me fazia recordar a importância de distinguir entre “princípios” e “interesses”. Os princípios enraízam a vida pessoal e comunitária em valores sólidos, independentes das modas intelectuais ou outras; os interesses variam, segundo as circunstâncias – mas devem sempre subordinar-se aos princípios, sob pena de os porem em causa. Quando alguém – indivíduo ou comunidade – esquece os princípios para avançar os interesses, lança as sementes da própria ruína.

 

2. A distinção entre princípios e interesses é particularmente importante para os cristãos, nas suas relações pessoais (família, escola, trabalho, amizades...) e na sua relação com a sociedade (em particular, no âmbito da política). Colocar os princípios que derivam da fé em Jesus à frente dos próprios interesses, mesmo quando estes são legítimos, é uma exigência do ser crente.

 

3. É bastante fácil, porém, justificar o abandono dos princípios e jogar segundo os interesses do momento. Pode acontecer num acto eleitoral, numa conversa entre amigos ou no modo como se reage às questões culturais mais exigentes. Tenta-se fazer o Evangelho mais simpático, coloca-se a doutrina entre parêntesis, em nome da eficácia pastoral, diz-se o que as pessoas gostam de ouvir, procura-se a aceitação dos outros, o aplauso da comunicação social, o sucesso mediático...

 

4. O Papa Bento XVI costumava lembrar que, para os católicos, há “valores não negociáveis”: a vida humana, o matrimónio entre um homem e uma mulher, o direito dos pais a educar os filhos, a promoção do bem comum em todas as suas formas. Bento XVI, porém, é passado e talvez seja tempo de seguir adiante. Alguns dizem que é inevitável, se queremos que a Igreja tenha lugar neste novo mundo, pois os velhos princípios tornaram-se obsoletos e precisam de ser substituídos por outros, mais adaptáveis às exigências do tempo. Talvez seja assim... mas eu prefiro ficar com a recomendação de São Paulo: «Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para saberdes discernir, segundo a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito» (Romanos 12, 2).

 

Elias Couto 

Divagando sobre uma leitura apressada

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Refiro-me à Carta Encíclica “Louvado Sejas” do Papa Francisco sobre o cuidado a ter com o Planeta, “nossa casa comum”, tão maltratada e tão pouco cuidada. Retenho algumas ideias que ficaram ressoando em mim ao longo da sua leitura e que cito livremente: “Uns com tanto, outros com tão pouco”´, “homens infelizes e sós”, “o ser humano está cada vez mais ansioso, vazio e solitário”; “O mundo cresceu em tecnologia, mas não cresceu em responsabilidade, valores e em consciência”; “É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e honestos”; “Vivemos há muito tempo em degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade”; “Chegou o momento de reconhecer que esta alegre superficialidade de pouco nos serviu”.


Fiquei com um misto de sentimentos contraditórios. O pensamento fugiu para o relato da Criação, para o Jardim do Éden, para a satisfação de Deus (“E viu que era bom/belo”) e o seu gesto de entrega desse “jardim” ao Homem acabado, também ele, de ser criado. Tudo abençoado. De seguida, e por contraste, passei por Adão e Eva atirando culpas e desculpas um ao outro; passei pelo episódio de Caím matando seu irmão Abel (sublinho “seu irmão” Abel); fiquei triste com a corrupção moral que levou ao Dilúvio, para terminar no projecto, felizmente não conseguido, da Torre de Babel, onde os homens, julgando que prescindindo de Deus, conseguiriam construir a cidade dos homens, apoderando-se dela como reis e senhores.


Dou um salto no tempo. A humanidade atingiu a sua maioridade, “decretaram” os Racionalistas e Positivistas do séc. XIX, a que aparentemente a tecnologia dá razão e concordância. Deus para quê?, perguntam. Freud deita achas na fogueira ao tentar explicar que Deus não é mais que uma projecção do psiquismo humano, embora útil, acrescentará Jung, seu discípulo. E assim se foi retirando Deus da história da Criação e se foi perdendo o olhar de criança (“Se não vos tornardes crianças…”), levando Edgar Morin, em meados do século passado, a escrever que a humanidade “perdeu o olhar contemplativo” (numa floresta vê apenas abate, dinheiro e lucro) e espiritual, acrescenta o Papa Francisco na sua encíclica. O homem já não consegue ver o planeta terra como “dom” e “mimo” de Deus, planeta onde Deus o colocou com a missão de “guardar e cultivar” (Gen 2, 15) e nele se realizar juntamente com todos os outros homens, como filhos deste Senhor, Criador e Pai.


Paro no n. 160 da encíclica e re-paro na pergunta “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?”, pergunta sustentada na descrição do número seguinte (n. 161): “As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia. Às próximas gerações, poderíamos deixar demasiadas ruínas, desertos e lixos. O ritmo de consumo, desperdício e alterações do meio ambiente superou de tal maneira as possibilidades do Planeta que o estilo de vida, por ser insustentável, só pode desembocar em catástrofes, como aliás já está acontecendo periodicamente em várias regiões”. Quem sofre as consequências? No imediato são sempre os elos mais fracos (os terceiros mundos espoliados e os pobres) e no longo prazo a humanidade inteira, se não arrepiar caminho.


A encíclica pretende abrir um espaço de reflexão e diálogo tanto entre crentes como não crentes. Leitura aconselhada e oportuna para tempo de férias e de paragem. Vale a pena responder à pergunta formulada pelo Papa: Que mundo queremos de facto entregar às gerações futuras?


A. da Costa Silva, s.j.

Família: a Escola e o Hospital mais perto

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Durante a sua viagem à América Latina, o Papa Francisco quis falar da família logo no primeiro país que visitou, o Equador. Uma abordagem em sintonia com a realização do Sínodo da Família, em Outubro. Fê-lo de um modo brilhante e carinhoso, colocando diversas questões e desafios.

Ficou célebre a sua frase: «a família é o hospital e a escola mais perto», explicando que é na família que cada pessoa pode ser ajudada e socorrida, com amor e carinho, em tempos difíceis, como é na família que se aprende a viver, a amar, a servir, a ter atitudes boas e justas.

Se a família é boa, com critérios e valores éticos, o amor vai fazer que haja união e paz, que não haja ninguém 'descartável', que as crianças não sejam desprezadas e tenham carinho, que os idosos não sejam colocados a um canto e recebam amor, que os esposos se estimem, amem, ajudem.

Lembro-me de um acontecimento que vem a propósito da história que o Papa contou acerca da sua mãe, dizendo que quando lhe dói um dedo, lhe doem todos; quando um filho anda mal, parece que todos a fazem crescer na atenção, no amor, na dedicação. Mas vamos ao acontecimento que desejava contar.

Estava eu à mesa com várias pessoas amigas e de família, quando uma médica nos disse: «Perguntei a uma paciente minha, mãe de vários filhos, de qual deles gostava mais. A mãe de família, simples e modesta, mas cheia de sabedoria e de experiência, respondeu: 'do filho que está doente e do que tarda em casa'». Seja ele qual for, mais novo ou mais velho, mais esperto ou menos, mais bonito ou mais feio, pouco importa: «ama o que está doente, seja ele qual for, e o que tarda em chegar a casa, porque não dorme sem o ouvir chegar». Que resposta maravilhosa e sábia. Que encanto! É assim o amor quando é verdadeiro.

A família, se é mesmo família, unida e com paz, espaço onde há carinho, diálogo, respeito, amor, é o hospital mais perto, pois todos se unem a tentar curar dores e feridas, sofrimentos e tempestades, situações difíceis. E é a escola mais perto, onde o amor faz viver e aprender a riqueza das relações justas, sinceras, delicadas, carinhosas.

Mas hoje damo-nos conta que há muitas famílias sem pão e sem amor, sem paz e sem diálogo, sem carinho e sem meios que ajudem a crescer na estima e na alegria. Há 'cancros familiares' gerados pelo adultério, pela falta de diálogo, pela falta de atenção e carinho de uns com os outros. 'Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão' afirma o adágio popular.

Sem emprego e sem ordenado justo, como pode haver paz e alegria, carinho e doação mútua? Sem respeito e delicadeza entre o pai e a mãe, como podem os filhos crescer no amor e no desejo de serem bons? Se os idosos da casa são colocados de lado e desprezados, como podem os jovens da família crescer na estima e no amor para com eles?

'Casa de pais, escola de filhos' afirma outro sábio provérbio popular. E todos constatamos que é mesmo assim. A família é o hospital e a escola mais perto. Um lar em harmonia é um dom precioso. O amor floresce como as flores e exala perfume.

Vamos esquecendo muitas vezes que família que não reza, não é 'igreja doméstica' viva, unida, em harmonia e dedicação. Se Deus está presente, tudo se renova e vivifica, há mais paz, mais amor, mais verdade. Há mais alegria, mais encanto, mais força para amar e servir, mais capacidade de diálogo e de perdão. O Deus que é Amor vai fazendo maravilhas no seio da família.

 

Dário Pedroso, s.j.

Salvadores do Planeta Terra? Tu e eu!

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É comum a tendência de situarmos as soluções dos problemas para além de nós. Normalmente acima de nós: autoridades internacionais, presidentes e ministros, chefes, superiores e dirigentes. Os outros em geral, e os grandes em particular, hão de oferecer-nos as soluções de que precisamos. Parafraseando, em positivo, o autor de O ser e o nada, «a solução são os outros».


Há tempos encontrei este pensamento de uma pacífica revolucionária, que transformou ambientes profundamente degradados, com pessoas a morrer na rua, criando espaços de acolhimento fraterno: «Primeira coisa a mudar na Igreja? Tu e eu».

 

Esta provocação é da Madre Teresa de Calcutá. Ela optou por fazer o que via ser possível, renunciando a lamentações e protestos, atitudes de quem se demite de ser autor de mudança, endossando a responsabilidade para os outros, para os que mandam. Também ela afirmou: «Mais do que protestar contra as trevas, importa acender um simples fósforo». É que nunca os protestos consertaram uns fusíveis, substituíram uma lâmpada ou acenderam uma vela. Gestos simples, acessíveis a qualquer pessoa, têm feito isso e muito mais.


Estas reflexões vêm a propósito da nova Encíclica do Papa Francisco «sobre o cuidado da casa comum», que é o nosso planeta Terra. É bom sublinhar a evidência de que não temos outro astro, alternativa para onde possamos ir morar, quando a degradação da ecologia humana chegar a um tal ponto que torne a Terra inabitável. Felizmente que, em geral, tem tido bom acolhimento este grito profético, fazendo tocar os sinos a rebate, pois deixar passivamente que se agravem os problemas, sem tomar medidas práticas, é como ficar desleixadamente sentado na esplanada de um café, quando uma casa ao lado está a arder.


«O meio ambiente é um bem coletivo, património de toda a humanidade e responsabilidade de todos» (n. 95). Naturalmente que governantes, autarcas e outras entidades têm uma obrigação especial no cuidado da casa comum, mas todos temos o dever de tratar bem a nossa casa para que seja mais limpa, bela e saudável.


O Cardeal Peter Turkson, Presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, assim afirmou numa entrevista: «A Encíclica é dirigida a todos e a cada um, de acordo com a sua vocação. Esta Encíclica pode ajudar cada pessoa a desempenhar um papel na salvação do planeta. Ela lembra a todos de olhar para o seu estilo de vida e para os seus hábitos e ser coerentes com a sua esperança para o futuro do mundo. Quando comemos ou vamos deitar fora um papel, devemos pensar no modo certo de fazer isso. Ou, por exemplo, podemos ir de bicicleta ou num transporte público em vez de ir de carro... Podemos economizar energia, e assim por diante. São apenas alguns exemplos para quem quer ajudar a salvar o planeta que o nosso Deus nos ofereceu».


O Papa Francisco desafia-nos a uma «conversão ecológica» (expressão repetida meia dúzia de vezes). É que os pecados (e muitos são atrozmente mortais e mortíferos) são aos milhões, com prejuízo de todos. A nossa querida Terra precisa de ecológicos praticantes, no nosso estilo de vida quotidiana.


Salvadores do Planeta Terra? Tu e eu!

 

Manuel Morujão, sj