Não estou a prever o fim do pontificado de Francisco. Que viva por muitos anos, dinamizando a Igreja de Cristo, de coração aberto a todo o mundo!
Quero expressar que Francisco é o primeiro a pôr em prática o seu programa, expresso na exortação apostólica A Alegria do Evangelho: «A Igreja “em saída” é a comunidade de discípulos missionários que “primeireiam”, que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam – desculpai o neologismo –, tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva. Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa!» (n. 24).
A recente viagem apostólica a Cuba e aos Estados Unidos confirma que temos «um Papa em saída» e que conjuga o verbo «primeirear» na primeira pessoa do presente do indicativo, para que também nós sigamos os seus passos, que são os de Jesus. Com a coragem dos que confiam na força desmedida de Deus na fragilidade própria, vai ao encontro dos grandes, sejam de esquerda ou direita, ditadores ou democratas, para lhes oferecer a alegria do Evangelho de Jesus, alegria tão divina quanto humana. Mas o contacto com os grandes, como os Presidentes Raul Castro ou Barack Obama, não o afasta dos pequeninos. E vimos, também nesta viagem, como foi visitar os sem teto, as crianças deficientes, os presos em cadeia de alta segurança, sempre recordando o drama dos refugiados e a urgência da inclusão social dos marginalizados.
O estilo de Jesus Cristo, que nos tem visibilizado o Papa Francisco, é também o programa de cada cristão, de mim e de ti, de todos nós como Igreja de Jesus de Nazaré. Mas é importante não pararmos a sonhar com uma saída para longe, num país distante. É que cada dia somos desafiados a sair do próprio comodismo e letargia em favor do serviço aos que precisam de nós, sem excluir ninguém. Sair aos mais diferentes ambientes familiares, laborais, sociais e políticos, sem nunca perder a identidade de discípulos missionários. No respeito das mais diversas pessoas, grupos e ambientes, compete-nos ser sal que salga e luz que ilumina.
«Uma Igreja que não sai, mantém Jesus preso». Afirmou decididamente o Papa Francisco, na recente entrevista à Rádio Renascença. Cabe-nos ser libertadores de Jesus, não O fechando na nossa timidez e preguiça. Urge libertar Jesus pelo testemunho da nossa vida, por palavras e atitudes, ultrapassando a nossa inércia envergonhada. A felicidade só habita na casa que tem as portas abertas para poder sair e ir ajudar quem precisa. Ou, como recorda um cristão filósofo da Dinamarca, (Sören Kierkegaard): «A porta da felicidade abre só para o exterior; quem a força em sentido contrário acaba por fechá-la ainda mais».
Neste artigo, vamos abordar a vida do casal em plena marcha. Aí pelos 25 anos de casados, quando os filhos começam a ser adultos, alguns começando mesmo a casar. As circunstâncias do casamento já são diferentes. Como os filhos são menos absorventes, o casal pode tirar mais tempo para si. O casamento atingiu a maturidade.
O casal já se pode preparar de um modo natural para enfrentar o choque da casa sem filhos, o síndrome da casa vazia.
Para quem a faz, a cerimónia religiosa das bodas de prata é um reavivar da chama do casamento. A data é uma altura para se olhar ao mesmo tempo para trás e para a frente, para o que há-de vir e para o que já foi. E a festa dá para perceber bem o verdadeiro lugar do casal na família. É uma festa de família, sim, mas ancorada no marido e na mulher. (Não é a festa de 25 anos de Pai e 25 de Mãe, por muito unidos que os filhos estejam aos pais.)
Passados 25 anos, já se pode perceber bem o impacto da relação do casal na vida familiar, na vida dos filhos. Se os dois não foram felizes, a família também não o foi, ou pelo menos foi menos feliz. Se os dois foram felizes, mais feliz foi a família. Com dificuldades, com certeza, mas se o núcleo da família esteve sempre forte e unido é muito mais provável que o conjunto da família também tenha saído forte e unido.
O casal já se conhece há 25 anos; está, pois, muito mais preparado para se amar. Além disso, o crescimento dos filhos já lhes oferece outras condições de relacionamento. Há então que pôr a render toda a sabedoria, todo o sentimento, todo o afecto que acumularam ao longo dos anos.
Em 25 anos, conseguiram perceber uma coisa aparentemente simples mas de facto muito complicada: é que psicologicamente o homem e a mulher são ainda mais diferentes do que fisicamente. Já não dizem ou dizem muito menos vezes: “mas porque é que ele não é capaz de fazer o mesmo que eu sou?”; “mas porque é que esta niquice é tão grave para ela?”.
No fundo, já nenhum quer que o outro reaja com EU reajo.
Já perceberam que muitas coisas não são má vontade. São incapacidade pura. Vejamos este exemplo:
Fim de uma festa. A mesa cheia de louça suja. O marido pergunta: “O que é que queres que faça?”. Ela amua, diz que não quer nada, porque ele devia ser capaz de olhar para a mesa e saber que os pratos sujos vão para a cozinha. (Ora, ao fim de 25 anos este tipo de coisas já está limado. Ela já percebeu que, para ele, levar os pratos sujos para a cozinha implica saber: os pratos levam-se empilhados ou 1 a 1?; o que é que se faz ao que está dentro dos pratos?; onde é que se põem os pratos?; onde é que se põem os talheres?)
E já fica toda derretida porque ele, ao fim de umas quantas vezes, aprendeu a ajudar e até a fazer tudo sozinho, quando a mãezinha dele não o obrigava a ajudar em casa.
Já perceberam que têm ritmos diferentes. Ela já percebeu que ele não consegue levar com as novidades todas do dia logo que chega a casa e ele percebeu que ela não se lembra de nada do que ele lhe diz quando ela acorda. Já perceberam que não é má vontade. É só serem diferentes.
Ao fim de 25 anos, ela também já deixou de tentar que ele ponha a roupa suja no cesto. Já deixou de dizer: eu não sou tua criada. De cada vez que lhe arruma a roupa suja pensa, “pois é, mas quando eu chego a casa tarde nunca me faz um interrogatório como eu lhe faço a ele.”
Já aprenderam a dar a volta a muitas situações. Por exemplo, já aprenderam quando é melhor deixá-lo em paz em vez de o bombardear com perguntas, tipo: “mas o que é que tens?”, “mas diz-me o que é que se passa.”
Também já perceberam que uma cara rabugenta pode não ser uma agressão mas um pedido de ternura.
Um dia, uma senhora queixou-se-me que ultimamente o marido chegava a casa muito mal disposto. Eu não perguntei como é que a senhora reagia, mas, pelo teor da queixa, deduzi que não devia estar a reagir muito bem. Disse à senhora: “Olhe, quando ele chegar a casa abrace-o. Se ele vem maçado do trabalho e a senhora se zanga com ele porque não tem que aturar aquela cara rabugenta, só piora as coisas. Se quando ele chegar maçado a senhora o acarinhar, talvez ele fique mais bem disposto, que no fundo é o que a senhora quer.” Daí a algum tempo, perguntei à dita senhora se tinha dado resultado. A senhora corou muito...
Já aprenderam que os dois precisam de pequenas e de grandes atenções e quais são elas. (Agora, com os filhos crescidos, há muito mais tempo para o tempo de qualidade.) Tempo para: saírem só os dois, para irem jantar fora ou para aproveitarem alguns dias de férias, etc.
No fundo, para se amarem têm que querer construir um amor sólido, fazer uma fogueira para a qual deitam achas regularmente.
O irmão Roger, de Taizé, era um teólogo “de joelhos, que no silêncio escutava o que o espírito de Deus lhe queria dizer, um teólogo que vivia o que dizia”. Por isso era “um verdadeiro teólogo, ou seja, alguém que sabe falar de Deus”.
A definição do cardeal Walter Kasper foi uma das caracterizações feitas no colóquio sobre o contributo do irmão Roger para o pensamento teológico. Realizado na primeira semana deste mês, em Taizé, o colóquio contou com a intervenção de teólogos e responsáveis católicos, ortodoxos, protestantes e anglicanos.
Um dos intervenientes foi Gottfried Hammann, professor de Teologia em Neuchatel (Suíça), e antigo membro do Grupo ecuménico de Dombes. Contestando a ideia de alguns colegas teólogos, de que o pensamento do irmão Roger constituía uma teologia, Hammann defendeu, perante os cerca de 300 participantes (na maioria, jovens teólogos ou teólogas oriundos dos cinco continentes) que o fundador de Taizé “tinha um pensamento teológico que partia do coração, uma teologia da ágape”.
Essa teologia do coração concretizava-se em gestos como o acolhimento de refugiados – que marca Taizé desde o início, quando, em 1940, o então jovem pastor calvinista Roger Schutz foi para Taizé para acolher refugiados e judeus fugidos ao nazismo. Essa perspectiva continuou ao largo dos anos, com pessoas oriundas da Índia, do Ruanda, da Bósnia, Ucrânia, Iraque e outros países a serem acolhidas pela comunidade.
Outro exemplo deste mesmo factor é o da Operação Esperança, iniciada em 1963 na América Latina para apoiar populações desfavorecidas e que já apoiou situações em realidades tão diversas como a Coreia do Norte, Bangladesh, Cambodja, Jordânia, Sudão do Sul, Etiópia, Burkina-Faso, Bolívia ou Cuba – onde, desde o último fim-de-semana, a comunidade iniciou a experiência de uma nova pequena fraternidade, com dois irmãos a viver em Matanças (centro da ilha).
“A palavra ‘esperança’ é inseparável do agir e de um agir que quer chegar ao que [Charles] Péguy chamou ‘eixo da miséria’ do nosso mundo”, disse Marguerite Léna, professora de Filosofia em Paris, que apontou ainda três pares de palavras que definem a experiência espiritual e teológica de Taizé: provisório/continuidade; urgência/paciência; possível/inesperado. T rata-se de uma “teologia em acto”, diziam vários intervenientes, ou ligada à vida, acrescentava Michel Stavrou, professor no Instituto de Teologia Ortodoxa de São Sérgio (Paris). Que também caracterizava o irmão Roger como alguém “apaixonado da bondade divina”, que tinha uma “linguagem política contemplativa” e “autenticamente teológica”.
Na apresentação do colóquio, o irmão Richard, de Taizé, dizia que o fundador da comunidade entendia que é possível conhecer Deus através do rosto radioso de Jesus. Para o irmão Roger, esse rosto revela-se nos rostos e nas vidas de quem mais sofre.
António Marujo
jornalista do religionline.blogspot.pt
(o autor escreve segundo a anterior nota ortográfica)
O irmão Roger, fundador da comunidade de Taizé, insistia na necessidade de colocar a Bíblia no centro dos encontros com os jovens. O facto foi recordado pelo irmão Alois, actual prior da comunidade que reúne uma centena de monges católicos e de diferentes origens protestantes.
Na abertura do colóquio sobre o contributo do irmão Roger para o pensamento teológico, a 31 de Agosto, o irmão Alois acrescentou que o fundador de Taizé preenchia a sua própria reflexão com referências e temas bíblicos.
O colóquio, que decorreu toda a semana passada na aldeia da Borgonha (França), foi encerrado pelo cardeal Walter Kasper, ex-responsável do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
Esta iniciativa foi a última das que, durante este Verão, assinalaram em Taizé as três datas aniversárias deste ano: o centenário do nascimento de Roger Schutz (12 de Maio de 1915), os 75 anos da sua chegada a Taizé (20 de Agosto de 1940) e os dez anos da sua morte (16 de Agosto de 2005).
No início de Julho, a comunidade propôs uma semana de reflexão sobre a actualidade da vocação monástica ou religiosa. Cerca de 350 jovens, mulheres e homens, oriundos de comunidades católicas, ortodoxas e protestantes de 52 países participaram na iniciativa (algumas intervenções podem ser consultadas no endereço http://taize.fr/pt_article19325.html).
Entre 9 e 16 de Agosto, cerca de seis mil jovens e jovens adultos participaram no encontro “Por uma Nova Solidariedade”. O objectivo era debater novas formas de intervenção dos jovens, sempre a partir de uma vida interior e de uma espiritualidade renovadas. Áreas como o compromisso pela justiça, a intervenção política e social, o aprofundamento bíblico ou a participação na vida eclesial, entre outras, estiveram presentes num conjunto de centena e meia de iniciativas diferentes (debates, intervenções artísticas, meditações) realizadas durante a semana.
No núcleo da reflexão proposta, estão três palavras centrais em Taizé, escolhidas para tema destes próximos anos: a misericórdia (2015-16), a alegria e a simplicidade.
“Redescubramos a bondade de Deus e a bondade humana; elas são mais profundas do que o mal! Através delas, atingimos o coração da mensagem de Cristo. Foi neste espírito de Evangelho que o Papa Francisco lançou um ano da misericórdia: todos são chamados a reflectir, através da sua vida, o perdão e a compaixão sem limite de Deus.”, escreve o irmão Alois, na carta onde apresenta o tema da misericórdia.
António Marujo
jornalista do religionline.blogspot.pt;
o autor escreve segundo a anterior nota ortográfica
O mês de Setembro está a começar. Muitos, ainda há poucos dias, estavam a olhar o mar, a dar um passeio na serra, ou simplesmente a “não fazer nada”, olhando preguiçosamente a paisagem.
Agora regressam as rotinas, o trabalho, as preocupações. Muitos preocupam-se também com o arranque do novo ano escolar e tudo o que ele envolve: o material escolar, os livros, a mochila com os rostos dos desenhos animados preferidos e o estojo novo, mesmo a condizer. O equipamento desportivo tem que estar em perfeitas condições e o espaço de estudo em casa devidamente equipado.
A agressividade da onda publicitária do “regresso às aulas” tende a criar necessidades nem sempre existentes. No meio de tantos folhetos e cartazes, promoções e descontos, é preciso saber quais as reais necessidades, incutindo também nos mais novos o sentido da responsabilidade e do cuidado com os materiais e espaços associados ao estudo, para que os mesmos tenham uma durabilidade razoável. Não vamos comprar a mochila da moda ou o estojo novo só porque o amigo tem um igual, mas porque realmente precisamos deles.
No meio desta azáfama em que nos vemos envolvidos, será que não temos um tempinho, por mais pequeno que seja, para fugir um pouco do bulício? Para pensarmos naquilo que podemos fazer para que este regresso não adquira rapidamente o ritmo dos anteriores? Para não cairmos desde já nas rotinas habituais e vermo-nos sem tempo para estas pequenas pausas?
Claro que esta “fuga” também exige de nós algum “combate ao comodismo”. Experimentemos, por exemplo, sair do conforto do sofá. Tenhamos a ousadia de pôr os pés ao caminho. Literalmente. Apreciemos com calma a paisagem, os recantos que habitualmente percorremos quando estamos, por exemplo, numa fila de trânsito. Vamos ter certamente a oportunidade de reparar em pormenores que antes nos passavam despercebidos. Vamos, se calhar, dar por nós a agradecer o dom da Criação, tal como o Papa Francisco nos convidou a fazer no início deste mês.
Com companhia, tudo se torna mais fácil. Por isso, ousemos desafiar alguém de quem gostamos para, descontraidamente, nos fazermos ao caminho e sentirmos como o simples respirar do ar puro nos pode levar a uma atitude diferente.
Estes momentos, por mais breves que sejam, podem ter em nós um efeito surpresa. E vão, certamente, levar-nos a encarar o regresso à rotina com mais ânimo e de uma forma mais leve. Ousemos pôr os pés ao caminho.