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Blogue do Apostolado da Oração

FELIZ ANO NOVO

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“Feliz Ano Novo!”. “Happy New Year!”. “Felice Anno Nuovo!”. A mensagem foi partilhada por uma pessoa amiga. “Caiu-me” estes dias no meu perfil de uma rede social. No meio de pensamentos tão distintos, entre imagens de locais a visitar, informações sobre as últimas notícias do país e do mundo, anúncios de imóveis, sugestões de gastronomia, publicidades a presentes ou promoções ótimas para as compras natalícias, chamou-me a atenção. Chamou-me a atenção e fez-me pensar.

Ano Novo? Já? Depois pensei: “sim, faz todo o sentido”. Este domingo [27 de novembro] começou um novo ano litúrgico. Neste caso concreto, começámos o Ano A, durante o qual é proclamado, nas eucaristias dominicais, o Evangelho de São Mateus. Como um sacerdote amigo dizia há dias, não temos foguetes, não temos champanhe... mas festejamos esta passagem de ano.

Apercebemo-nos disso? Provavelmente, até reparamos que o sacerdote estes dias veste um paramento de uma cor diferente, até constatamos que na igreja onde costumamos ir há sinais exteriores de que este é um tempo novo (uma decoração mais singela, uma coroa com várias velas, que se vão acendendo semana após semana...). Mas, vemos esse tempo apenas como os dias que antecedem o Natal e todos os preparativos a ele associados? Ou temos a noção que este é verdadeiramente um novo ano, o início de um novo ciclo?

Sendo um novo ano, podemos aproveitar esta passagem de ano para festejar, para formular votos de felicidade a quem conhecemos, para assumir propósitos e objetivos, que queremos concretizar. Tal como fazemos, com tanta naturalidade, na passagem de ano civil, de 31 de dezembro para 1 de janeiro... em cada ano.

Se nessa altura já nos habituamos a definir objetivos concretos, adaptados à vida e circunstâncias particulares de cada um, na passagem de ano que agora celebrámos também nos podemos preocupar em formular propósitos... por exemplo, propósitos que nos aproximem mais de Deus.

Porque não, por exemplo, assumir o desafio de praticar as obras de misericórdia, fazer o propósito de cuidar melhor os momentos de oração, procurar verdadeiramente estar em paz connosco próprios, com os outros e com Deus, celebrar o sacramento da reconciliação com verdadeiro sentido de arrependimento e desejo de conversão? Porque não aproveitar para fazer uma leitura há tanto tempo ansiada, e constantemente adiada? Porque não simplesmente aproveitar para estar mais tempo em silêncio, sem preocupações especiais, simplesmente contemplando a criação e deixando as coisas acontecer?

Que este novo ano, que agora começou, seja verdadeiramente diferente. Por isso, “roubando” a ideia à pessoa amiga que formulou os votos nas redes sociais, aqui ficam os meus votos de “Feliz Ano Novo!”

 

Cláudia Pereira

 

 

A-DEUS, LEONARD

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A música de Leonard Cohen começou a fazer-me companhia ainda na adolescência. Escutando a rádio, era surpreendido, de vez em quando, pela sonoridade profundamente melancólica daquela voz inimitável, grave como nenhuma outra. E ficava à espera da próxima vez em que a rádio me traria de novo aqueles sons únicos.

Bastante mais tarde, já no tempo dos CD, comecei a poder comprar: sem método, nem regra, um CD agora, outro depois. Comprava os CD de Leonard Cohen como comprava livros: quando podia, pelo prazer de os ter, pela alegria de os ouvir, porque começava a entender as palavras e ia descobrindo, para além do músico, um poeta extraordinário.

Leonard Cohen não juntava palavras para pendurar numa música. Cantava histórias, de amor, de perda, de solidão, mesmo quando essas histórias não rimavam com coisa nenhuma, a não ser com corações quebrados pelo passar dos anos e pelo desgaste que a vida traz. Histórias de mulheres amadas ou símbolos do amor (Suzanne, Marianne, Joan of Arc...), histórias de gente quebrada, como o mendigo nas ruas de Nova Iorque com um letreiro onde se lia Please, don’t pass me by – I am blind, but you can see (e uma fabulosa interpretação ao vivo, em Londres, na qual todos somos cegos e gritamos para não nos passarem ao lado!), histórias de amores românticos feitos de abandono e tristeza, porque amor rima sempre com dor...

Depois, soube que Leonard Cohen, canadiano de nascimento, era de ascendência judaica. E isso ajudou-me a reler algumas das suas poesias, tão marcadas por figuras bíblicas ou pela liturgia judaica. Leonard Cohen já não era apenas o poeta que lutava com uma humanidade quebrada, mas também um homem em luta com Deus: Jacob e o Anjo. Agora podia acompanhá-lo interiormente no seu Hallelujah, pois, por muitos erros que se cometam, há um raio de luz em cada palavra...; ou caminhar ao lado de Abraão e Isaac, até ao cimo do monte, numa das suas mais estranhas e pungentes poesias (Story of Isaac), trazendo para hoje uma das narrativas mais arrepiantes de toda a Bíblia: vós que construis agora estes altares para sacrificar estas crianças, não o façais nunca mais.

Leonard Cohen morreu a 7 de novembro, com 82 anos. No mês anterior, tinha publicado o 14º álbum. A poesia que lhe dá o título não podia ser mais elucidativa – You want it darker – We kill the flame. Leonard canta um mundo que escurece, a vida que se vai apagando, um Deus com O qual não pode deixar de lutar. Mas conclui: Hineni, hineni (Aqui estou, em hebraico), acrescentando: Estou pronto, meu Senhor.

Leonard Cohen terminou a sua luta com Deus. As suas palavras e a sua música continuam a acompanhar-me na minha – até esse dia em que espero poder dizer adeus e entregar tudo A-Deus.

 

Elias Couto 

 

 

 

 

NOVEMBRO BEM MERECE UMA REFLEXÃO

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Hoje, dia em que começo esta nota, o tempo está tristonho e fechado, com sabor melancólico. Dizem que é outono e outono é assim, e, porque é assim, até deu aso à expressão “outono da vida” para descrever a velhice. novembro coube-lhe nascer aqui, emparedado entre um pré-anúncio de fim de alguma coisa e começo de algo que quer nascer. Naquela árvore a despir-se lentamente das folhas amarelecidas caindo abandonadas no passeio, ou nos dias mais pequenos onde a noite parece ter pressa em engolir o dia e a escuridão em matar a luz, há qualquer coisa que novembro quer esconder sem esconder e mostrar sem mostrar, contentando-se com apontar para a folha nova que irá nascer, para outro dia com luz, até chegar, espero, o “Dia sem Ocaso” e a “Grande Luz” profeticamente anunciada em Isaías: “Um povo que andava nas trevas viu uma grande luz”. Sabemos a Quem se referia. Mais do que morrer, novembro parece fermentar vida futura.

 

Em termos litúrgicos, abre com a celebração da Vida plena (Solenidade de Todos os Santos), imediatamente seguida da lembrança da Morte na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos (“Mês das Almas”, gosta de lhe chamar a piedade popular), para fechar o mesmo ano litúrgico com o Triunfo de Cristo Rei, saído vitorioso da morte como Senhor Ressuscitado. Desta forma “fecha”, “abrindo” tempo novo em que a Vida vence a Morte, deixando-nos o fim do ciclo litúrgico aberto em esperança e como Esperança que o Credo recolhe no seu último artigo de fé (“Espero a ressurreição dos mortos e a vinda do mundo que há de vir”). Será tempo sem tempo, será “Vida Eterna” (que dura sempre), será o “aqui” aberto ao “além” desta vida onde habita o mistério de Deus e do Homem, alargando os horizontes da vida humana, e, mais importante, dando-lhe sentido. A vida não acaba, apenas se transforma (recebe outra forma) de mortal em imortal. Acaba “esta” vida, não acaba “a” vida.

Este “além” sempre foi, é e será uma questão essencial, inquietante e incontornável para o homem em geral e para cada um de nós em particular, caso não queira (não queiramos) fazer desta vida um absurdo qualquer à boa maneira de Sartre. A história tem tentado responder-lhe com a reincarnação e a imortalidade. Em ambos os casos a outra vida fica fora de mim, quer recomeçada noutro (reincarnação), quer prolongada noutros, de geração em geração (imortalidade). novembro fecha para abrir o Natal, o mesmo é dizer o Nascimento de Alguém que dirá de si mesmo: “Eu Sou a Ressurreição e a Vida”, abrindo com Ele o meu amanhã onde serei Eu e não outro ou lembrança de outros.

É este “além” que explica os martírios dos irmãos Macabeus de que fala a Bíblia perante as exigências de apostasia por parte do rei sírio (“Vale a pena morrer às mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará” – 2Mac 7, 14) e de tantos mártires ao longo da história da Igreja. O verdadeiramente trágico não é o que acontece a esta vida ou nesta vida, mas o que sobra para além dela; o trágico não é morrer, mas ficar na morte. Por isso aqui fica a minha profissão de fé na ressurreição dos mortos e a vinda do mundo que há de vir, traduzida em palavras da 2Ped 7, 14: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos céus novos e uma nova terra, onde habite a justiça”. São palavras de esperança. Com ela faço votos que novembro nos entregue um bom dezembro, onde o Senhor quer vir ao nosso encontro, para connosco continuar a ser o Caminho dos nossos caminhos na senda desta Esperança.

P.S.: Hoje, dia em que termino a nota, o tempo está solarengo, embora frio. Nem de propósito.

A. da Costa Silva, s.j.

 

REFUGIADOS: QUEREMOS SER LUGAR PARA ELES?

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Num contexto como o destes últimos tempos, com atentados terroristas em território europeu, é compreensível que alguns sentimentos de apreensão e de insegurança possam surgir, face à entrada de estrangeiros nos nossos Países.

 

Ao mesmo tempo que notícias destes atentados na Europa surgiam – ou aliás ainda antes disso – notícias de uma violência em muito maior escala tinham porém chegado a nós: vindas de bem perto, da nossa vizinha Síria. Pouco tempo depois do desencadear da guerra civil nesse País, surgiam relatos dramáticos, de multidões de pessoas a tentarem atravessar o mar mediterrâneo, em inseguras e sobre-lotadas embarcações. O desfecho para parte dessas pessoas acabaria infelizmente por terminar em tragédia: em cada ano têm sido milhares (!) as pessoas que têm morrido, na tentativa para escapar a uma guerra brutal. As imagens de pessoas afogadas no mediterrâneo (incluindo crianças) são simplesmente intoleráveis, mais ainda no século XXI.

 

Se, como referi, é compreensível o sentimento de preocupação com a segurança nos Países europeus, por outro lado não me parece que num momento dramático como este seja possível virar simplesmente a cara, e ignorar o sofrimento dos refugiados (ou pretender que eles devam ir tentar procurar refúgio “nalgum outro lugar”).

 

Sendo por vezes olhados com desconfiança, na suspeição de que possam vir “trazer o terrorismo”, um dos aspectos irónicos neste drama dos refugiados é que, se estas pessoas se viram forçadas a abandonar o seu próprio País, foi precisamente para fugirem dos mesmos movimentos extremistas e violentos que nós receamos. É de notar, por outro lado, que a maioria dos terroristas que levaram a cabo os recentes atentados em Países europeus não vieram de fora, mas pelo contrário tinham já nascido em território europeu.

 

Não existirá então risco algum, se nos decidirmos a acolher algumas dessas pessoas? Isso é algo que ninguém poderá certamente garantir. Quem sabe se, em mil pessoas que desesperadamente procuram refúgio, não se encontrará alguma pessoa com intenções menos pacíficas? Porém, ainda que assim seja podemos perguntar: será então que todas as outras novecentas e noventa e nove pessoas inocentes, que procuram fugir da violência, terão então de pagar por isso? Será então esse um argumento para que fechemos as portas na Europa e não aceitemos receber nenhum daqueles que procuram escapar à guerra?

 

Bem explícito foi várias vezes Jesus ao dizer que o seu seguimento – o amor a Deus e ao próximo – envolve sempre também um preço a pagar. Porque dificilmente será possível fazer-se o bem ao próximo sem algum tipo de risco, sem que, de algum modo, tenhamos de sair da nossa “zona de conforto”.

 

Não está, infelizmente, na nossa mão podermos parar as guerras, causa e origem de todo este sofrimento. Algo porém, neste momento dramático e histórico, está na nossa mão fazer, tal como o Papa em diversas ocasiões tem repetido: podemos pelo menos procurar minorar alguns destes dramas pessoais. Recordemos que a primeira visita do Papa Francisco, pouco depois de ter sido eleito, foi precisamente à ilha de Lampedusa, chorar por aqueles que se afogaram no mediterrâneo, perseguidos por uns e ignorados por outros.

 

Surpreendente pela sua coragem e a sua generosidade foi a posição assumida no ano passado pela Chanceler da Alemanha, Ângela Merkel, ao oferecer lugar no seu País para nada menos que um milhão de refugiados (isto para além daqueles que a Alemanha tem já acolhido nos últimos anos). Apesar de, no final da segunda guerra mundial, terem também sido milhões os refugiados alemães, a Chanceler parece ter já tido de pagar um preço bem alto por este seu gesto, em termos eleitorais e de popularidade entre os seus. Já em alguns outros Países da Europa, por outro lado, o discurso oficial foi bem diferente do do acolhimento, sendo por vezes adoptadas posições populistas (ou até quase xenófobas). Isto como se, por si só, os muros pudessem verdadeiramente resolver os problemas, ou até conter os grandes movimentos de populações.

 

A prazo, parece de facto pouco provável que, num mundo dividido por muros, possa ser assegurada a segurança de quem quer que seja (quer de um lado, quer do outro dos muros). A verdade é que soluções que parecem mais fáceis e imediatas podem acabar por vir a contribuir para uma ainda maior polarização de tensões e ressentimentos no interior de um mundo que, queiramos ou não, se torna cada vez mais uma “aldeia global”. Como o Papa tem defendido, o que realmente precisamos não é de levantar muros (que, a prazo, acabam por nunca se revelar verdadeiras soluções para ninguém), mas sim de nos esforçarmos por estabelecer pontes.

 

De um ponto de vista legal, por outro lado, é de recordar que todos os Países europeus são signatários da convenção de Genebra, na qual se comprometem a conceder asilo e proteger os refugiados de guerra que cheguem ao seu território. Depois de terem começado a vir a público as notícias de milhares de refugiados afogados no mediterrâneo, a União Europeia chegou em 2015 finalmente a acordo para, teoricamente, acolher 160.000 refugiados (ou seja, não mais do que 0,03% da sua população total). Portugal – que tantos emigrantes seus tem tido no estrangeiro – comprometeu-se nessa mesma ocasião a acolher 4.500 refugiados (ou seja, 0,045% da sua população). Até hoje, porém, pouco mais de um décimo desses números terá efectivamente sido acolhido, quer em Portugal quer nos outros Países europeus. Apesar de estes números serem perfeitamente negligenciáveis para os nossos Países (e no meio da abundância em que vivemos no ocidente, comparados com o resto do mundo), a verdade é que alguns medos continuam por vezes a ser estimulados na opinião pública, alertando para uma alegada “invasão” que podemos sofrer por parte desses refugiados.

 

Curiosamente, um dos argumentos por vezes usado para evitar o acolhimento de refugiados tem sido o argumento “religioso”: em alegada defesa do cristianismo. Há quem defenda que, se acolheremos refugiados muçulmanos, isso contribuirá para a “islamização” da Europa. Custa a crer que, num momento de excepção como este, com uma guerra civil tão cruenta às nossas portas, seja em nome do cristianismo que se defenda um fechar de portas a quem tão desesperadamente precisa de acolhimento para sobreviver. Momentos de excepção pedem gestos também de excepção. De resto, como todos sabemos, os actos sempre valeram bem mais do que as palavras, e os gestos de acolhimento muito mais do que as indoutrinações – incluindo na própria pregação do Evangelho. Se a nossa preocupação é verdadeiramente a proclamação da mensagem de Jesus, então que outra coisa podemos fazer senão testemunhar a nossa humanidade para estes nossos semelhantes que tão necessitados se encontram agora? Se estes nossos irmãos um dia nos puderem dizer “Era peregrino e acolheste-me” (Mt 25), isso sim será então sinal que um testemunho verdadeiramente cristão foi dado neste momento histórico e particularmente difícil para o povo sírio.

 

Texto: P. Luís Ferreira do Amaral, sj

Fotos: JRS - Internacional

 

 

 

 

 

 

FLORES PARA OS MORTOS

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Confesso que estou a mudar de opinião e a aceitar com mais serenidade interior as flores para os mortos, quando sinto que as mesmas pessoas tratam bem dos vivos, dão de comer aos que têm fome, preocupam-se com quem não tem casa, luz, amor, etc. Parecia irritar-me nos gastos enormes em flores para os mortos, que não precisam nada delas; precisam sim de orações, de sufrágios, de celebrações de Missas. Mas, repito, confesso que estou a mudar de opinião.

Os dias 1 e 2 de novembro são verdadeiros reboliços, azáfama com a ida aos cemitérios. Mas, para além das flores, creio que há muita amizade, carinho, saudade pelos que já partiram deste mundo. Mesmo para os que não rezam muito, ou até não têm muita fé, só a ida ao cemitério e o lembrar os que partiram já é algo importante. Ato de recordação afetiva, de respeito pelo local, de comunhão com quem estão ligados por laços profundos de amor, de amizade, de vida. E hoje, no meio de tanta indiferença, de tanto desprezo, de tanta falta de comunhão familiar, de amizade séria e profunda na sociedade em que vivemos, ainda resta algo de muito positivo na visita aos cemitérios. Mas… continuo a pensar que se gasta muito dinheiro em flores, e o pior parece ser que é mais para dar nas vistas, ou seja, numa atitude de vaidade dos vivos, que uma homenagem aos defuntos.

O mês de novembro é, na tradição da Igreja, o mês dedicado aos defuntos, aos nossos “irmãos, os fiéis defuntos”. Daí as expressões “mês das almas”, “mês dos fiéis”. Com uma catequese bem dada, poderíamos ter aqui um trunfo apostólico para um crescimento na fé, na vida para além da morte, nas realidades do Céu, do purgatório e do inferno. Uma catequese sobre a eternidade, sobre a certeza que a pessoa não morre, apesar da morte do corpo, da certeza que nascemos para a eternidade. Certeza do amor do Pai que nos criou à sua imagem e semelhança e que é o Deus dos vivos. Certeza que Jesus, vencedor da morte e do pecado, é Rei glorioso, vive para sempre e foi à nossa frente preparar-nos um lugar na Casa do Pai. Certeza de que com a morte a vida não acaba, apenas se transforma. Todos vivemos para sempre. Daqui a semente de esperança e de alegria.

Além da lei canónica sobre a cremação, aparece agora (só agora?) uma instrução mais clara acerca da cremação e do convite da Igreja, para que a cremação não seja feita, e, se for, que é necessário guardar as cinzas num lugar “sagrado”, que as gerações vindouras esquecerão seus antepassados com as cinzas lançadas ao rio, etc. etc. Estas medidas ajudarão a pensar no valor do corpo unido à alma, que teve atos sagrados, como os sacramentos, que viveu como parte integrante da pessoa humana. As cinzas depois da cremação, deitadas ao mar ou ao rio numa procissão de barco, não ajudarão a recordar os entes queridos, não são testemunho das pessoas que amámos. E há indícios de que com as cinzas, sobretudo se ficam em casa, tem havido atitudes pouco sérias e dignas, usando-as para certos cultos satânicos, certas atitudes de falta de respeito pela pessoa querida que partiu para a eternidade.

Eu prefiro que meus pais estejam sepultados no cemitério do que ter as cinzas guardadas em casa ou deitadas ao mar, ou a ornamentar um quadro, uma joia, etc. Aquelas ossadas que lembram a profecia de Ezequiel, trazem-me sempre ao pensamentos os pais que amei e que me deram a vida, que sepultei com amor e devoção, a cujas missas de exéquias presidi e me deram tanta consolação. Aqueles pais que acredito que estão vivos em Deus. Não me canso de dar glória a Deus pelos pais que tive e acredito que junto de Deus velam por mim. Estamos juntos no amor de Jesus e sempre em festa.

 

Dário Pedroso, s.j.