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Blogue do Apostolado da Oração

Aquele dom que está mesmo lá no fundo

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O leitor imagine que quer escrever um livro. Que sonhou durante alguns anos com escrever um livro e que finalmente se decidiu. Entusiasmaram-no a escrever um romance.

 

Depois de ter começado, vieram as dúvidas. Mas para que é que eu estou a fazer isto? Mas será que tenho talento? E como é que eu sei que tenho talento? Isto é um tiro no escuro. E se o livro é um fracasso? E se não arranjo editor? E se ninguém compra? E se a crítica o desfaz? Enfim, há motivos de sobra para o leitor não andar para a frente.

 

Por outro lado, vai mostrando bocadinhos a este e àquele, recebendo críticas, aperfeiçoando o texto, ganhando confiança e lá vai andando. Mas claro que continua a ser um tiro no escuro e essa tensão começa a ser insuportável. Escrever para a eventualidade de se chegar ao fim com um fracasso de todo o tamanho é insuportável. Então, é preciso alguma coisa que dê alegria ao ato de escrever. É preciso que escrever não seja só para se ter sucesso.

 

A partir daqui, o leitor pergunta-se: porque é que eu comecei a escrever? E porque é que ainda estou a escrever? Comecei a escrever por um impulso, como que empurrado por alguma coisa interior. Chegou a hora de ver se isso que me empurra continua no tempo, tem energia para me empurrar ao longo de todo o processo de escrita, se tenho alegria ao escrever.

 

Então, ou escrevemos por necessidade interior, escrevemos porque isso nos realiza, escrevemos porque temos prazer nisso ou não nos aguentamos na longa caminhada. Numa palavra, temos que escrever por amor a nós próprios. E também escrevemos por amor ao leitor. Escrevendo por amor, escrevemos necessariamente para Deus, pois que Deus é Amor.

 

O leitor, se tem alguma coisa lá no fundo que há muito gostava de fazer mas não sabe se tem esse dom, arrisque. Se tem esse desejo lá dentro, vai ver que encontra prazer na caminhada e que Deus lhe aparece pela frente.

 

Gonçalo Miller Guerra, sj

São João Batista, solstício e comunidade

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Como o Sol que brilha intensamente nestes dias, S. João Batista é uma luz que indica o caminho da esperança e aponta a salvação. É a voz que clama no deserto e apela à consciência coletiva para se preparar para a chegada do Messias. Com coragem, S. João Batista anuncia valores novos para a sociedade, mostrando-se coerente no seu discurso e na mensagem de boa nova.

 

A Igreja celebra o santo em duas datas: dia do seu nascimento, a 24 de junho, e a sua decapitação, a 29 de agosto. Fixado seis meses antes da Natividade de Jesus, o nascimento de S. João apelidava-se, noutros tempos, de ‘Natividade de verão’.

 

A piedade popular sempre reservou para S. João Batista um lugar à parte dos apóstolos e dos santos, sublimando, na festividade joanina, algumas tradições pagãs ligadas à vida e à renovação.

 

Exaltam-se as virtudes das ervas bentas e surgem, nas ruas, os alhos-porros, símbolos masculinos, e os manjericos e cidreiras, símbolos femininos.

 

A água está presente nas orvalhadas, sinais de fecundidade, e nas cascatas de S. João, com os seus rios e fontes, espécie de presépio de verão na qual S. João Batista é a figura central e onde se encontram todos os elementos da comunidade.

 

A luz e o Sol são recordados no fogo de artifício que cai do céu e nas fogueiras de S. João, que desafiam os mais corajosos a superar as dificuldades, trazendo-lhes boa saúde.

 

Festividade de dimensão urbanística e, ao mesmo tempo, rural, a Natividade de S. João convida os participantes a apropriarem-se dos espaços comuns, como os pátios, adros e largos, para celebrar a grande festa, convertendo-os em grandes salas de convívio.

 

É neste ambiente, em que toda a comunidade sai à rua, que se quebram barreiras. Dá-se horizontalização das relações: todos os estratos sociais se aproximam e convivem.

 

A festa popular é, assim, uma manifestação do povo de Deus que se alegra, confraterniza e retira todas as barreiras sociais para que as pessoas se aproximem e vivam o S. João num clima especial de proximidade e de consciência coletiva.

 

Bom S. João!

 

 

Maria Betânia Ribeiro

O Sonho de Alex

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“É sempre fixe quando alguém trabalha em alguma coisa difícil e alcança o seu sonho. Espero que alguém se possa inspirar nisto”. A afirmação é do norte-americano Alex Honnold, um jovem de 31 anos que, sozinho, sem cordas ou qualquer equipamento de segurança, escalou estes dias o mítico “El Capitan”, uma escarpa com 900 metros, no estado da Califórnia, Estados Unidos da América.

 

Depois de três horas e 56 minutos a escalar, Alex Honnold chegou ao topo, sentou-se, comeu uma maçã, ouviu o chilrear dos passarinhos e descreveu a maior experiência da sua vida.

  

Este feito do jovem americano pode servir de inspiração para pessoas de todas as idades e o seu testemunho pode ser transposto para um vasto campo de experiências e realidades.

 

Alex sonhou e fez o possível, e se calhar o impossível, para concretizar o seu sonho. Tal como ele, todos na vida temos sonhos. Crianças, jovens, adultos e idosos sonham projetos, condições de vida, amizades... Alguns desses sonhos são concretizáveis. Outros mais utópicos...

 

Perante os sonhos que vamos tendo e que vão alimentando o nosso imaginário, importa não ter uma atitude passiva. Importa pôr os pés a caminho e lutar para que eles se realizem. Mesmo que o sonho como o idealizamos não seja completamente alcançado, o caminho que fizermos pode levar-nos a outros sonhos e a experiências que nunca tínhamos vivenciado.

 

Ao assumirmos este tipo de postura, estamos a dar exemplo a outros, incentivando-os a, também eles, lutarem por aquilo que pretendem. Tal como aconteceu com Alex Honnold. Que o exemplo deste alpinista profissional possa servir de motivação, pelo menos a quem ler o seu testemunho.

 

Inspiremo-nos nas palavras de Fernando Pessoa: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”.

 

 

Cláudia Pereira

 

 

Francisco, os Embriões e a Porcaria

 

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1. Há situações que me fazem regressar a temas sobre os quais tinha decidido deixar de escrever, não por falta de importância, mas por considerar os mesmos culturalmente decididos. É o caso do aborto livre a pedido. Sendo o “buraco negro” daquela que, apesar de tudo, continuo a chamar civilização ocidental, encontra-se, não obstante, culturalmente encerrado. A sua legalização não tem volta atrás e mesmo aqueles que nos opomos claramente a isso precisamos de o assumir, se queremos encontrar propostas alternativas capazes de manter vivo o direito dos nascituros à vida.

 

2. Recentemente, confrontei-me com uma dessas situações. O Papa Francisco, numa das suas publicações no Twitter, escreveu: “Nenhum fim justifica a destruição de embriões humanos”. Nada de extraordinário, trata-se da doutrina constante da Igreja sobre o tema. Extraordinário foi o comentário, também no Twitter, de uma das mais emblemáticas paladinas do aborto livre a pedido e de todas as outras causas fraturantes. Escreveu: “crianças a morrer por todo o lado e este preocupado com a porcaria dos embriões”.

 

3. Como se pode acreditar na preocupação pelas “crianças a morrer por todo o lado”, quando os embriões humanos são “porcaria”? E como se pode olhar para os embriões humanos – humanos, não de galinhas ou de macacos – como porcaria? Pode-se, sim, para lhes retirar a humanidade, a sua única defesa face ao abortismo militante. Desumanizadas, as crianças ainda por nascer são facilmente incluídas na cultura do descartável de que fala tantas vezes o Papa.

 

4. Escrevi acima que o aborto livre a pedido é o “buraco negro” da civilização ocidental. Eis porquê. Tendo eliminado o respeito por algumas vidas – as mais frágeis e invisíveis – acabará sugando o respeito por toda a vida: começa-se no aborto, continua-se na eutanásia para os muito idosos e doentes incuráveis que a desejem e, a seu tempo, irá tudo quanto fica pelo meio. Bastará ser desagradável – uma porcaria – para o culturalmente correto do momento.

 

Elias Couto